Liturgia e Homilias no XXXII Domingo Comum B | 7 novembro 2021
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Amarás o Senhor, teu Deus, com toda a tua alma, com todo o teu coração, com todas as tuas forças! Ouvíamos, há oito dias, esta belíssima fórmula de oração judaica, no diálogo entre Jesus e o escriba. Agora, ao vivo, no templo, Jesus confronta a soberba, a avidez e a hipocrisia dos escribas, que jogam as sobras, com a gratuidade, a confiança e a generosidade da viúva que dá tudo o que tem para viver. Na conclusão da Semana de Oração pelos Seminários, tenhamos presentes os seminaristas e os seus formadores. Ofereçamos ao Senhor a alegria das crianças, a ousadia dos adolescentes e o entusiasmo dos jovens, para que o Senhor, ao ver a riqueza do seu coração pobre, encontre neles a liberdade e a coragem de dar e arriscar tudo por amor a Deus e aos irmãos.

Homilia no XXXII Domingo Comum B 2021 – esquema 1(mais genérico)

 

Pão por Deusfoi o pedido do profeta Elias àquela pobre viúva de Sarepta, que não teve mãos a medir, até dar tudo o que tinha em casa. E eis que nada lhe viera a faltar. O seu gesto, que ficou para a história, replica-se naquela outra viúva que vai ao templo de Jerusalém e dá tudo o que tinha para viver. E, dando tudo o que podia garantir a sua vida, ela dá-se a si mesma. Jesus, que Se oferece inteira e continuamente por nós, revê-Se no gesto desmedido daquela viúva. Ela sabe bem que, para Deus, nada menos que tudo. Agora, o escriba tem ali uma catequese ao vivo sobre o que significa “amar a Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças” e até “com todos os haveres”, sem ter nada de seu, nem reter nada para si. Nesta entrega desmedida, mas confiante na Providência divina, esta viúva arrisca tudo em Deus, a vida toda… toda a vida. Gostaria de aplicar o Evangelho deste domingo a três aspetos da nossa vida cristã:

1. Em primeiro lugar, examinemos os nossos ofertórios na Eucaristia. Um dos sinais da sua degeneração é termos trocado a palavra ofertório (oferta, oblação, dádiva, partilha) pela palavra peditório, com uma ressonância penosa e humilhante. Pervertemos assim este gesto tão belo, que acompanha a apresentação dos dons do pão e do vinho, porque, ao oferecermos dinheiro, não é uma esmola que damos a quem pede; é a oferta do nosso trabalho, é o sinal efetivo da nossa partilha, é a manifestação do nosso desprendimento, é a expressão concreta da nossa atenção aos pobres e a nossa resposta às necessidades materiais da comunidade. Não é dinheiro que damos para um peditório qualquer, uma espécie de imposto, para pôr a funcionar a economia da salvação. Não. É o sinal da oferta e do sacrifício da nossa vida inteira, é o nosso contributo para a vida da comunidade, para a prática da caridade. Nesta oferta, associamo-nos ao sacrifício de Cristo, que tem o preço impagável da Cruz. Aprendamos a dar com discreta alegria e ensinemos os mais pequeninos a fazê-lo com a ternura do amor.

2. Em segundo lugar, preparemo-nos para o 5.º Dia Mundial dos Pobres, neste ano em que precisamos de responder à pandemia de forma mais criativa. É preciso sairmos ao encontro dos pobres, lá onde estão. Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas, aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem. É importante compreender como se sentem, o que estão a passar e quais os desejos que têm no coração. «Não me perguntem se existem pobres, quem são e quantos são, porque tenho receio que tais perguntas representem uma distração ou o pretexto para escapar de uma específica indicação da consciência e do coração. (…) Os pobres, eu nunca os contei, porque não se podem contar: os pobres abraçam-se, não se contam» (Padre Primo Mazzolari). Irmãos e irmãs: os pobres estão no meio de nós. Como seria evangélico, se pudéssemos dizer com toda a verdade: “Também nós somos pobres”, porque só assim conseguiríamos realmente reconhecê-los e fazê-los tornar-se parte da nossa vida e instrumento de salvação!

3. Por fim, gostaria de relacionar este Evangelho com a Semana dos Seminários: dizem, por aí, que há falta de padres por causa da obrigatoriedade do celibato! Talvez o problema esteja mais na liberdade desta pobreza do que no rigor da castidade! Estou certo de que uma vida de padre, pobre e simples, é mais atraente do que uma vida sacerdotal aburguesada e instalada. É por haver pobreza a menos, que há falta de vocações sacerdotais. E, aqui, pobreza quer dizer vida dada, a custo zero, sem retorno. E é por isso que a escassez das vocações sacerdotais tem a mesma raiz que a falta de vocações ao matrimónio, onde se adiam eternamente as opções, onde faltam os filhos e sobram os animais. Na raiz, o problema é sempre o mesmo da verdadeira pobreza: omedo de arriscar a vida toda… toda a vida.

Pensemos nisto: no isco e no risco de qualquer vida que valha a pena. Pois quem não arrisca não petisca! Quem não deu tudo, ainda não deu por nada!

 

Homilia no XXXII Domingo Comum B 2021 – esquema 2 (mais testemunhal)

 

1. Pão por Deus foi o pedido do profeta Elias àquela pobre viúva de Sarepta, que não teve mãos a medir, até dar tudo o que tinha em casa. E eis que nada lhe viera a faltar. O seu gesto, que ficou para a história, replica-se naquela outra viúva que vai ao templo de Jerusalém e dá tudo o que tinha para viver. E, dando tudo o que podia garantir a sua vida, ela dá-se a si mesma. Jesus, que Se oferece inteira e continuamente por nós, revê-Se no gesto desmedido daquela viúva. Ela sabe bem que, para Deus, nada menos que tudo. Agora, o escriba tem ali uma catequese ao vivo sobre o que significa “amar a Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças” e até “com todos os haveres”, sem ter nada de seu, nem reter nada para si. Nesta entrega desmedida, mas confiante na Providência divina, esta viúva arrisca tudo em Deus, a vida toda… toda a vida.

2. Pomos os olhos nestes exemplos provocadores, precisamente neste domingo em que se conclui a Semana de Oração pelos Seminários. Tenho algum medo de diminuir o excesso deste gesto da viúva com algum comentário. Talvez o possa replicar, salpicando algumas memórias do meu tempo de Seminário, até chegar às raízes familiares da minha vocação sacerdotal. Onde ganhei eu esta coragem de arriscar a vida toda e por toda a vida, sem deitar contas à vida? Em primeiro lugar, na família, a partir de casa. Permiti que vos conte esta história real e pessoal:

No dia da minha missa nova, o padre que tinha casado os meus pais e tinha batizado boa parte dos meus irmãos, já não era nosso pároco. Mas foi convidado e fez questão de me ir saudar, na minha casa de família. Na varanda, enquanto se ultimavam os preparativos da longa procissão para a Igreja, ele partilhou comigo esta cena da sua vida pastoral: «Quando pensei pôr bancos na Igreja, resolvi, no final da missa, perguntar aos fiéis: ‘Quem pode dar uma ajuda?’, ‘Quanto poderia cada família dar’? O teu pai – disse-me o Pe. Manuel Gonçalves – foi o primeiro a responder: ‘Eu, por mim, pago um banco inteiro’». Retorquiu o pároco de então: “Manel, tu não podes. É muito. Tens 12 filhos”. Meu pai respondera então: “Eles em casa também não se sentam no chão. Pago um banco, sim senhor; é a minha obrigação”. Perante a resposta do meu pai – confessou o velho pároco – “os outros todos sentiram-se na obrigação de dar, na mesma medida, e arranjámos o dinheiro que era preciso. Todos perceberam que a Igreja era também a sua Casa”. Esta história comoveu-me muito, mas ela repetia-se amiúde lá em casa: primeiro, dar o que é preciso para a Igreja, para as festas da paróquia, para os pobres da freguesia… só depois, se sobrasse alguma coisa, podíamos reclamar os nossos luxos: umas meias novas ou umas botas novas. A minha mãe, às vezes dia: “Manel, estás a dar muito. Olha que…”. O meu pai, que era bom em contas, respondia: “Rita, ele sai pela porta e entra pela janela”. Conto-vos estas coisas, porque o exemplo do meu pai deu-me um grande sentido de partilha, de amor à Igreja, deu-me a consciência da Igreja como Casa de família, a importância da sobriedade de vida, da preocupação com os pobres, a certeza de não valer a pena dar nada se não se der tudo. Podia ainda lembrar duas viúvas, que, no tempo de seminário, a primeira coisa que faziam, quando recebiam a sua pequeníssima reforma, era darem-me alguma coisa, em troca de umas ave-marias, antes que o dinheiro desaparecesse!

3. Irmãos e irmãs: dizem que há falta de padres por causa da obrigatoriedade do celibato. Alguns, se pudessem, abririam um concurso televisivo tipo “Quem quer casar com o Pastor?”. Mas eu dou-me conta, pelos poucos casamentos que há na Paróquia – alguns já na roda dos 40 anos – de que afinal também há uma enorme falta de vocações para o Matrimónio, para construir uma família cristã com mais filhos do que animais. Talvez, na raiz, o problema das vocações (sacerdotais, religiosas e matrimoniais) seja só o mesmo: o medo de arriscar a vida toda… toda a vida. Talvez o problema esteja mais na liberdade da pobreza do que no rigor da castidade! Pensemos nisto: no isco e no risco de qualquer vida que valha a pena. Pois quem não arrisca não petisca! Quem não deu tudo, ainda não deu por nada!

 

 

 

 

 

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