Liturgia e Homilias no XXXI Domingo Comum B 2021
Destaque

A regra do distanciamento físico deve ser revogada para dar lugar à lei da proximidade, física e espiritual. Precisamos de aprender a conjugar o verbo amar com a escuta e a proximidade, o que implica amar de corpo e alma, com a luz da inteligência, com a ternura do coração, com a força dos braços, com o realismo dos gestos concretos. A Palavra de Deus, neste domingo, recorda-nos que “o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis e constituem um único mandamento” (Bento XVI, DCE 18). Participar nesta Eucaristia é, ao mesmo tempo, uma expressão do amor a Deus, único Senhor, mas que reverte necessariamente a favor de um amor mais puro e mais concreto ao próximo. Porque onde há amor nascem gestos.

Homilia no XXXI Domingo Comum B 2021

1.Ame o próximo. Guarde a distância”. Foi esta regra paradoxal que norteou a nossa forma de vivermos juntos e em comunidade, durante a pandemia. Sentimos, muitas vezes, como esta regra sanitária era, sobretudo, uma forma de praticar o mandamento do amor ao próximo, mesmo quando nos reuníamos aqui, para responder e corresponder ao amor a Deus, escutando a sua Palavra e partilhando a mesa da Eucaristia. Interiorizadas estas regras de distanciamento físico, em difíceis e sucessivos períodos de confinamento, temos agora de reaprender a gramática da proximidade física, do tato e do contacto, do toque e do cheiro, da proximidade e da ternura, mesmo se ainda com o rosto meio vendado!

2. Mas, pelo que se vê, não tem sido fácil, para nós, sair do prolongado abrigo, largar a armadura defensiva que nos põe a léguas dos outros, mesmo se a um metro e pouco de distância. Dá impressão de que, entretanto, nos habituámos a este novo normal e perdemos massa muscular, com efeitos colaterais de anemia espiritual: custa-nos, passado este tempo, levantar do chão, dar um passo em frente, estender as mãos ao próximo, retomar as visitas, voltar aos encontros de família, de grupo, ou sair de casa para a Igreja. Quando se esperava que o desconfinamento nos atirasse para o colo dos outros e para o reencontro das nossas mãos, reagimos com apatia, ficamos imobilizados pela inércia anterior. As nossas manifestações de amor a Deus e de amor ao próximo, duas faces da mesma moeda, parecem tolhidas mais pelo medo de viver do que pelo medo de morrer, paralisadas pela lassidão, pela preguiça de quem se instalou ou habituou a viver à custa do rendimento mínimo, no menor esforço possível. Dá a impressão de que só nos move o que nos interessa: as vacinas, as consultas médicas, as caminhadas, os desportos individuais e as compras. Os outros só nos interessam na medida dos nossos interesses. O nosso mundo, que passou pela pandemia, em que dizíamos estarmos todos na mesma barca, parece mais um mundo de sócios, ligados por interesses comuns, do que um mundo de irmãos, unidos pelo amor.

3. Para alguns cristãos, a medida excecional do fecho das igrejas induziu-os, erradamente, na ideia de que podiam viver bem o seu amor a Deus sem o amor ao próximo, confinando a fé à sua própria casa, a tal ponto que o encontro fundamental da Eucaristia é dispensado ou substituído por um qualquer remédio caseiro ou por alguma pastilha eletrónica. Fico aterrado quando alguém diz: “Com esta idade já estou dispensado(a) da missa”, e eu quase diria: “E dispensado de outras práticas que requeiram a Sua Excelência levantar-se do sofá e pensar mais nos outros”. Fica-se com a sensação de que uma das consequências das restrições da pandemia tenha sido o alívio da prática religiosa, como se a dispensa da vida em comunidade fosse menos um imposto a pagar! Ora, ausentes da celebração, distantes dos outros, indiferentes à comunidade, acabámos mais fragilizados na fé, deveras enfraquecidos na esperança e incapazes de multiplicar gestos de amor.

4. Irmãos e irmãs: é urgente, por isso, escutar a realidade, aumentar o tempo e a qualidade das relações pessoais, preocupar-se menos e ocupar-se mais, dedicar-se a atividades criativas e solidárias, voltar ao toque e à ternura da proximidade, à alegria de vivermos juntos. Precisamos de uma fisioterapia adicional do espírito, para vencer a pandemia da indiferença com a terapia da proximidade do amor, para curar a esclerose do coração com o encontro afetuoso das mãos, para reverter a anemia da nossa fé com o reforçado alimento da Palavra, do pão e do vinho da alegria, à mesa da Eucaristia. Toca a exercitar toda a nossa musculatura espiritual, para que a nossa inteligência, o nosso coração e as nossas forças se agilizem e mobilizem para viver aquele amor do qual nascem gestos de escuta, de atenção, de proximidade, de serviço, de louvor, que tanto glorificam a Deus como nos tornam próximos de todos. Tudo o mais… tudo o resto não passa de comentário!

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