Homilia no XVIII Domingo Comum B 2021 *
«Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?» (Jo 6,28)
1.O primeiro de agosto não é certamente o melhor dia para falar de trabalho, de obras, das muitas coisas a fazer. O mês, por excelência, das férias, das paragens e das viagens, dos encontros e reencontros, desafia-nos sobretudo a aprendermos a difícil arte de não fazer nada, isto é, a exercitar o ofício salutar do silêncio e da contemplação, para alcançar o verdadeiro repouso gratificante.
2. Este não fazer nada é simplesmente estar aí, disponível para a surpresa de tudo quanto nos rodeia, para a graça de cada instante, que não programamos. Não fazer nada significa sentir-se um pouco como uma árvore, uma pedra, uma cigarra estendida sobre um ramo, uma nuvem no céu. Não fazer nada significa sentir que existimos e estamos vivos, e, por isso, fruímos da alegria de simplesmente estarmos neste mundo. Não fazer nada torna-se, nesta medida, um laço, uma comunhão, uma união vital com tudo e com todos os que estão à nossa volta. Poderemos então compreender como é belo viver e porque é que o valor da nossa vida não se reduz a uma máquina que produz!
3. Não fazer nada é sabermos ser uma porta aberta, que mora à espera, prontos a acolher quem chegar, disponíveis para escutar silêncios e palavras, recolher lágrimas e sorrisos. E, se não aparecer ninguém, este não fazer nada é abraçar o silêncio e a solidão, que abrem espaço no coração ao diálogo interior, ao espanto e à interrogação, ao mistério e à procura do sentido da vida. Nesta medida, as férias, como tempo para não fazer nada, podem ser uma graça: um tempo diferente, uma pausa fecunda para viver, para fazer tudo de outra maneira, não fazendo nada.
4. Este não fazer nada, para quem tem sempre muito que fazer, não é fácil. Somos quase todos trabalhadores compulsivos; muitos de nós entramos na categoria dos chamados workaholics, afetados pela síndrome de quem tem o fio da vida preso à máquina do trabalho, incapazes de parar. Se repararmos bem, esta adição afeta-nos mesmo em tempo de férias. Chegados aí, muitos de nós pensamos imediatamente em esvaziar as malas, pôr tudo em ordem, fazer programas, estabelecer o que fazer, de manhã, à tarde, à noite... E sempre encontraremos muitas coisas a fazer, exceto o tempo de parar e não fazer nada.Na nossa relação com os outros, com a vida e mesmo na nossa relação com Deus, sofremos deste ativismo, desta laboração contínua, desta agitação paralisante.
5. Nessa medida, percebe-se bem a proposta de Jesus a quem Lhe reivindica trabalho e reclama mais obra feita. Jesus aconselha um outro trabalho, que não é tanto o de fazer, mas sobretudo o de deixar Deus fazer. E por isso contesta: «A obra de Deus é que acrediteis n’Aquele que o Pai enviou» (Jo 6,29). Acreditar é entregar-se ao Senhor, é confiar-se a Ele. É deixar-se moldar, deixar-se trabalhar e transformar a partir do encontro íntimo com o Senhor. Acreditar não é fazer, cumprir regras; é, primeiramente, aprender a receber tudo o que Ele nos dá e a recebê-lo a Ele, que dá e Se dá. Se nos deixarmos arrebatar por esta relação de amor e de confiança com Jesus, seremos então capazes de realizar aquelas boas obras, que têm o perfume do Evangelho.
Irmãos e irmãs, nestas férias, façamos apenas uma coisa: façamos férias! Isto é, aprendamos a arte de não fazer nada, a sabedoria de deixar que seja Deus a fazer tudo. Como quem reza assim: “Oh Senhor, tu fazes tudo e eu faço o resto”!
* Homilia inspirada, em boa parte, num texto de Ermes Ronchi,“Não faço nada, logo existo”.