Liturgia e Homilias no XV Domingo Comum B 2021
Destaque

O kit pastoral, que Jesus recomenda aos discípulos na hora de partir em missão, também pode servir de kit para o nosso equipamento ao partirmos para férias. Simplicidade, sobriedade e hospitalidade podem ajudar-nos a cumprir a divisa turística particularmente atual em tempos de pandemia: Vá para fora cá dentro. Deixemo-nos interpelar pela Palavra de Deus, que nos chama à presença e ao encontro do Senhor e, a partir daí mesmo, nos envia ao encontro dos que mais precisam de uma cura de silêncio, de escuta, de presença, de afeto.

Homilia no XV Domingo Comum B 2021

 

1.A missão tem um centro e tem um rosto. O centro é a pessoa de Jesus. É Ele que chama, envia, dá poder, ordena e diz! É a partir deste centro vital, do encontro pessoal com Jesus, que irradia a missão dos Doze. E o rosto visível desta missão consiste na pobreza de meios. Livres e ligeiros, os Doze são e vão… mais pobres do que os pobres a quem são enviados. E, por isso, a regra da expedição missionária é tão simples como isto: «Quanto menos, tanto mais» (LS 222). Quanto menos coisas, tanto mais leves no caminho! Quanto menos riquezas, tanto mais livres, diante dos outros! Quanto menos poder, tanto mais eficazes na missão. Quanto menos pessoas, tanto mais próximos de cada um. Quanto menos meios, tanto mais espaço para Deus. Na verdade, “tudo o que não serve, pesa” (Madre Teresa). Assim, para os Doze, a sua vida bela e sóbria, simples e feliz, liberta e generosa, despojada e humilde, ancorada no cajado de Cristo, é a sua primeira forma de pregação. Esta imagem é a primeira mensagem.

2.Mas este guia prático para a missão pode também ser um guia prático para as férias de verão. Bem vistas as coisas, as palavras de Jesus ajudam-nos a preparar este tempo livre, libertando-nos tempo e poupando-nos o peso, na bagagem. Por isso, permito-me reler o Evangelho em “modo férias” e deixar-vos aqui um guia prático, com três indicações, para outro tempo e para outro espaço de missão:

2.1.Primeiro:Enviou-os dois a dois e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão”, o cajado do Bom Pastor, para os apoiar no cansaço! Vão dois a dois, porque basta um amigo, entre mil, para nos amparar na solidão. Evitemos, nas férias, o contágio, a dispersão e o ruído das multidões. “A natureza está cheia de palavras de amor, mas como poderemos ouvi-las, no meio do ruido constante, da distração permanente e ansiosa ou do culto da notoriedade” (LS 225)?

2.2.Segundo:Nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas”! Basta-nos o equipamento do peregrino. Não cedamos à tentação de partir de férias com a casa às costas. Isto implica “um regresso à simplicidade que nos permite parar a saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece” (LS 222). Por isso,também nas férias, «quanto menos, tanto mais»: quanto menos necessidades, tanto mais apurada é a qualidade de vida;quanto menos procura de consumo, tanto mais afinada é a degustação.Alegremo-nos com pouco, para vivermos muito! “A acumulação constante de possibilidades para consumir distrai o coração e impede de dar o devido apreço a cada coisa e a cada momento” (LS 222).

2.3.“Quando entrardes nalguma casa, ficai nela até partirdes dali”! Nas férias, não descuremos a nossa casa, a nossa vida familiar, mas, dentro do possível, tendo sempre em conta os riscos de contágio com os contactos alargados, em tempos de pandemia, aprendamos a hospedar quem precisa de abrigo, de conforto, de escuta. Pratiquemos a hospitalidade com aquele que não pensa como nós, com a pessoa que não tem fé ou a perdeu, com o perseguido, com o desempregado, com aqueles que perderam a esperança e o gosto pela vida. Quantas feridas, quanto desespero se pode curar, numa casa onde alguém se sente bem-vindo! Para isto, é preciso ter as portas abertas, as de vossa casa, as da nossa Igreja, mas em tudo, sempre abertas as portas do coração!

Que este modo contemplativo, sóbrio ehospitaleiro de viver o tempo das férias e de cuidar da nossa Casa comum seja a nossa forma de profetizar, de dizer aos outros que a verdadeira vida, o gozo maior, a paz autêntica, o repouso salutar só na comunhão com Deus e com os irmãos se pode viver! Lá fora ou cá dentro, as férias também são tempo e campo de missão! 

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HOMILIA NA PROFISSÃO DE FÉ | XV DOMINGO COMUM B 2021

Reunimo-nos hoje para celebrar a Festa da Profissão de Fé. Perguntemo-nos então: o que é isto de “professar a fé”?

1.«Profissão» não significa aqui um ofício, um tipo de trabalho, como o de ser carpinteiro, professor, padeiro ou engenheiro. Não. Profissão deriva de duas palavras latinas (pro-fateri), que significa “dizer diante de alguém, dar testemunho diante de outros”. “Professar a fé” é, de algum modo, isto mesmo: confessar publicamente, dizer de viva voz diante dos outros, dar testemunho aos outros deste Deus em que acreditamos, em Quem pomos a nossa confiança. É muito importante não termos vergonha de proclamar a nossa fé diante dos outros, mesmo que se riam de nós ou nos odeiem, ou nos rejeitem por causa disso. Na nossa casa, na nossa terra, na nossa escola, no nosso grupo de amigos, nos tempos livres, nem sempre é fácil assumir que somos cristãos, que fazemos parte de uma comunidade cristã, que temos a Deus como Pai, a Jesus como irmão e amigo; que somos animados pelo Espírito de Jesus; que temos uma grande esperança na vida eterna; que precisamos da Palavra e da Eucaristia como do pão de cada dia… Não. Não é nada fácil. Em muitos casos, pode custar o emprego, os amigos, o bom nome, ou mesmo a própria vida.

2.Mas tenhamos claro: “professar a fé”, na maior parte das vezes, não se faz com declarações, discursos, palavras, ou com um like nas redes sociais. A fé anuncia-se e transmite-se pelo nosso próprio estilo e modo de ser, de viver, de agir e reagir. Se professamos a fé em Deus Pai, viveremos como filhos e não como estranhos; se professamos a fé em Jesus, o Filho de Deus, viveremos como irmãos e não como inimigos; se abraçámos a fé e fomos marcados pelo Espírito Santo, viveremos a fé e a vida em família, em comunidade, em comunhão, e não isoladamente. Se professamos a fé na vida eterna, valorizaremos o compromisso de construir desde já, os novos céus e a nova terra, lutando pela justiça e pela paz, pelo bem comum. Se professamos a fé no amor de Deus, teremos mais alegria em dar do que em receber; seremos capazes de perdoar e de fazer o bem a quem nos faz mal, de servir de graça e com alegria, de dar a própria vida. Esta é a forma mais eficaz de professar a fé. Com meios pobres. Mas com o ouro eo tesouro do Evangelho. Através deste estilo de vida, simples e sóbrio, livre e desprendido, os outros verão estampada em nós a imagem do rosto de Jesus; verão como Jesus está realmente no centro da nossa vida e é inteiramente o tesouro do nosso coração! 

3.Mas a raiz latina da palavra “professar” tem o seu equivalente na língua grega (pro-phêmi): “profetizar”. E “profetizar” é “dizer em vez de outrem”, é ser o mensageiro de viva voz de Deus. Por isso, só profetiza aquele que não fala de si, mas deixa Deus falar através de si. Profetiza aquele que não tem nada de seu, mas transmite apenas o que recebeu de Deus. Profetizar não é apenas anunciar, com as nossas palavras, a Palavra de Deus, mas é dar testemunho dos efeitos poderosos dessa Palavra de Deus na nossa vida. Neste sentido, ser profeta, como dizia Amós, não é uma profissão, não é uma função, não é um ofício; tal como ser pai, ser mãe, ser padre, ser catequista é um chamamento, uma vocação, uma missão dada por Deus.

4.Queridos catequizandos do 6.º ano: Professai connosco a fé da Igreja, dizendo ou cantando, de viva voz, o Credo, ou respondendo “Sim, creio”. Mas, sobretudo, dizei e mostrai aos outros que o Senhor vos ama, vos chama e vos conhece pelo nome. Aceitai a amizade que Jesus vos pede e parti com Ele por toda a parte, a dar testemunho do Seu Amor. Sede sempre fiéis à vossa amizade com Jesus e ao encontro com Ele, na celebração e na vida desta comunidade. Ide por aí fora e fazei barulho, fazei algazarra, expulsai este vírus terrível da tristeza, da solidão e do desânimo, com as vacinas da alegria, da coragem e da jovialidade da vossa fé! 

 

 

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