Homilia na Solenidade do Nascimento de São João Batista
1.Celebrar a criação do mundo
Da bola ao balão, do Europeu de Futebol ao São João, com o mês de junho chegou a alegria e a folia do verão. E São João bem se goza dos benefícios do tempo quente, com festa rija, na noite mais curta do ano. De resto, o mês de junhotem uma carga tradicional de tempo festivo, já antes do cristianismo. Na Idade Média, julgava-se que os fogos acesos na noite mais curta do ano tinham efeitos curativos e preventivos, tanto para os humanos, como para os animais. Havia a crença popular de que as águas e certas ervas recolhidas na noite de São João tinham poderes extraordinários. Mas, para um cristão, celebrar a chegada do verão exprime sobretudo uma atitude de gratidão pela variedade das estações que permite a regeneração da Criação. «Vós criastes os elementos do mundo, estabelecendo o curso dos tempos e as estações do ano» (Prefácio Comum V), assim reza a Liturgia. Não é preciso, de facto, recorrer a velhas superstições, para, como João, perceber a novidade do tempo de Jesus Cristo. E celebrar o ciclo das estações, como sinal da «admirável Providência» com que «Deus ordena a evolução dos tempos» (Prefácio Comum IX). A Solenidade do Nascimento de São João, no princípio do verão, é, por isso, estímulo a celebrar o dom da Criação e a gozar, agradecido, dos seus frutos maduros. Pois «Deus viu que tudo era bom» (Gn 1,10.12.18.21.25).
2.Celebrar a criação do ser humano
Mas esta Solenidade, mesmo que naturalmente projetando-nos na contemplação gozosa da criação do mundo, está centrada no mistério do nascimento de uma criatura humana, neste caso, de João Batista. E todo o clima de alegria, que gira à volta do santo popular, vem exatamente daí: do dom da vida, da alegria de nascer e de vir a este mundo. «Quando Isabel teve um filho, os seus vizinhos e parentes partilhavam da sua alegria» (Lc 1,58). Esta é, de facto, a maior maravilha da Criação: o nascimento de um menino. «Eu vos dou graças por me haverdes feito tão maravilhosamente: admiráveis são as vossas obras», exclama o salmista, extasiado ao contemplar a grandeza do Homem, a quem se destina toda a Criação. E a quem a Criação do mundo é confiada, como dom e missão. Por isso, entre todas as obras de Deus, a mais sublime, porque criada à Sua imagem e semelhança, é a do ser humano. Então «Deus viu que era muito bom» (Gn 1,31). É bom ter nascido. É bom saber que somos amados antes ainda de nascer.Não somos filhos do acaso. Somos fruto de um pensamento amoroso de Deus!
3.Celebrar a Festa da Vida
Alegremo-nos, pois, com o nascimento de João Batista (Lc 1,14).E aprendamos, com ele, «a saltar de alegria» (Lc 1,41)pelo dom da vida. Aprendamos "a saborear simplesmente as múltiplas alegrias humanas que o Criador já coloca no nosso caminho: a alegria exaltante da existência e da vida; a alegria do amor casto e santificado; a alegria pacificadora da natureza e do silêncio; a alegria, às vezes austera, do trabalho cuidadoso; a alegria e satisfação do dever cumprido; a alegria transparente da pureza, do serviço, da participação; a alegria exigente do sacrifício" (Paulo VI, Gaudete in Domino, 1). Celebremos, neste nascimento, a Festa da Vida! E viva a alegria dos santos, que partilho convosco, em jeito de quadra são-joanina:
Gira a bola e sobe o balão.
O verão trouxe alegria e sol.
E vem lembrar-nos o São João:
“Há vida, p’ra além do futebol”!