Homilia no V Domingo Comum B 2021
1. Não testou positivo para a COVID-19. Mas a sogra de Simão estava com febre! Alguém o diz a Jesus. E a resposta de Jesus é imediata: aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. Três gestos simples que curam:
1.1.O primeiro gesto é o da proximidade. Jesusestá com o doente e não apenas a seu lado, numa relação de confiança amiga, de respeito, de modo a superar qualquer barreira defensiva. Jesus não cura, nem prega em laboratório. Também não perde tempo, junto à cama do doente, a discursar e a explicar o sentido da doença e da dor. Faz-Se próximo. E a Sua proximidade é um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação a quem sofre, testemunhando assim que a doença não é um castigo e que cada vida humana tem um valor único e irrepetível, mesmo no limite extremo da fragilidade. Em muitos casos, sabemos que não podemos curar. Mas temos sempre o dever de cuidar até ao fim.
1.2.O segundo gesto terapêutico de Jesus é o da Sua mão estendida, mão que protege o orante, mão que acaricia e contagia o amor, mão que suporta e sustenta a fragilidade da mulher, comunicando-lhe a força e o vigor. Doravante, ela caminhará pelo seu próprio pé, mas sempre graças a uma mão estendida. Cristo é, para os doentes, a mão que Deus estende a cada um, na sua dor e na solidão. Na experiência de ser amada, toda a vida encontra a sua justificação!
1.3.O terceiro gesto de Jesus na cura da sogra de Simão é já anúncio e prenúncio de ressurreição: com a força da Sua mão, Jesus levanta-a do chão, ergue-a para o alto, põe-na de pé. E ela, uma vez curada, começa a servi-los, mostrando-se assim discípula d’Aquele Jesus que não veio para ser servido, mas para servir. E, hoje, servir “significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo. O serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até “padece” com o doente e procura a promoção do irmão»” (FT 115).
2.Queridos irmãos e irmãs: Jesus dedica boa parte do Seu dia e do Seu tempo ao cuidado dos doentes. Fá-lo por compaixão divina. Ele sabe que a doença nos faz sentir a nossa vulnerabilidade, a nossa impotência, a necessidade do outro, a nossa dependência de Deus. Com a doença, vem a incerteza, o temor. E, por vezes, o pavor domina a nossa mente e o coração. A doença obriga a questionarmo-nos sobre o sentido da vida e da morte; é sempre uma pergunta que, na fé, se dirige a Deus!
3. Emblemática a este respeito é a figura bíblica de Job. A esposa e os amigos não conseguem acompanhá-lo na sua desventura; antes, acusam-no, aumentando nele a solidão e a desorientação. Job cai num estado de abandono e confusão. Mas é precisamente aí, através desta fragilidade extrema, que faz chegar o seu grito instante a Deus. E Deus acaba por responder, abrindo-lhe um novo horizonte: o seu sofrimento não é uma punição nem um castigo, não é distanciamento de Deus, nem sinal de indiferença d’Ele. Por fim, do coração ferido e recuperado de Job, brota aquela vibrante e comovente declaração de Job ao Senhor: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti, mas agora veem-Te os meus próprios olhos» (Jb 42, 5).
4.Creio que aí está a chave no cuidado dos doentes. Ver com os próprios olhos, isto é, ver com o coração de Deus. Aproximar-se. Calar-se e deixar falar somente o amor (cf. DCE 31). É um bom programa, para vivermos este tempo de pandemia e especialmente o Dia Mundial do Doente, já na próxima quinta-feira. Procuremos, pelos meios que estiverem ao nosso alcance, que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado. Neste tempo de pandemia, cuidemos ainda mais uns dos outros, com amor fraterno! Somos todos irmãos.