Homilia na Solenidade do Natal 2020
1. Todos de casa!
Irmãos e irmãs: celebramos hoje o tão sofrido, esperado e desejado Natal de 2020, este ano mais do que nunca, em nossa casa e, na maior parte dos casos, apenas com os de casa. E assim nos identificamos e aproximamos, em modo real e viral, desse Natal primeiro e original. No Natal, celebramos a vinda surpreendente de Jesus, o Filho de Deus, a Palavra eterna do Pai, que Se faz Homem e vem habitar entre nós (Jo 1,14). Mas em Belém – anota o evangelista São Lucas – “não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). E o quarto Evangelho deixa a mesma nota, noutro registo: “Veio ao que era seu e os seus não O receberam” (Jo 1,11). Somos nós, aqui e agora, no hoje da história, a Casa do Seu Nascimento. A Estrela do Oriente, que vai à nossa frente, indica que é em nossa Casa que Ele hoje quer nascer, crescer, viver e conviver. A celebração do mistério do Natal desafia-nos, pois, a tornar cada vez mais «familiar» esta presença de Jesus em nossa casa, de modo que Ele não Se torne uma visita anual e decorativa do Presépio, mas uma presença real e permanente nas nossas casas. Deixemos que, nas nossas famílias, também Jesus Se torne “de casa”, a Luz acesa sobre a mesa; que ilumine e aqueça tanta dor e escuridão, que atravessam, neste Natal, o nosso coração inquieto.
2. Todos irmãos!
Irmãos e irmãs: qual é afinal a mensagem universal do Natal? O Natal diz-nos que Deus é um Pai bom e nós somos todos irmãos. O Natal celebra o mistério pelo qual Deus Se fez Homem e, em Jesus Cristo, Se faz nosso Irmão e nos faz todos irmãos e irmãos de todos. O rosto de Deus manifesta-Se num rosto humano. E, assim, o Natal do Filho de Deus indica-nos que a salvação passa através da fraternidade entre nós, da amabilidade no trato, da santidade dos pequenos gestos, da proximidade com os feridos, da solidariedade, que procura o bem do outro, da identidade radical, que brota deste mistério do Natal, pelo qual nos tornamos todos filhos de Deus, todos irmãos e irmãos de todos. Por isso, as minhas boas-festas natalícias são votos de fraternidade. Fraternidade entre pessoas, de bom ou de mau feitio, de qualquer convicção ou prática religiosa, de perto ou de longe, de fora ou de casa! Que este Natal nos faça redescobrir os laços de fraternidade que nos unem.
3. A graça deste Natal: vivermos como irmãos!
Irmãos e irmãs: o Menino Deus, o Primogénito de muitos irmãos, proteja as crianças e os mais frágeis, os indefesos e os descartados, as vítimas desta pandemia e todos os afetados e infetados pelo vírus mortal da indiferença. Possamos todos, mas sobretudo os mais idosos e sós, os lutadores e os enlutados, receber do Nascimento do Salvador uma luz suave, uma paz duradoira e um conforto consolador. Que o Deus Menino, neste Natal de 2020, nos conceda, nada mais e nada menos do que a graça e a alegria de nos reencontrarmos e de vivermos como irmãos e irmãs, em melodiosa harmonia (cf. Sl 133/121,1). Guiados pela Estrela do Oriente, eis-nos todos de joelhos e todos de mãos dadas, dentro do Presépio de Belém. Este é o lugar mais belo do mundo, onde nascemos e nos tornamos todos irmãos, todos de casa.