Liturgia e Homilias no XXXIV Domingo Comum A 2020
Destaque

Este é o último domingo do ano litúrgico. Um ano atravessado pelo espesso nevoeiro de uma pandemia que ainda persiste. Entre mortos e feridos não é legítimo passar ao largo, para não ver o irmão ferido e tratar as suas feridas. No fim da vida, o balanço será feito pela balança do amor que tivermos uns pelos outros. A parábola do juízo final, que vamos escutar, dá-nos já as perguntas do exame final, o protocolo de entrada no Reino, com a certeza de que o amor aos pobres é o nosso passaporte para o Céu. Deixemo-nos, desde já, mover pelo amor de Deus, para que a Sua misericórdia nos converta em irmãos, próximos e cuidadores uns dos outros.

HOMILIA NA SOLENIDADE DE CRISTO REI A 2020

“Eu guardarei as minhas ovelhas para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas” (Ez 34,12)!

 

1.Num dia de nevoeiro, é mais provável que as ovelhas se percam, se dispersem, se desorientem ou caiam inadvertidamente de alguma ravina e fiquem feridas, quem sabe mortalmente! Num dia de nevoeiro, cada ovelha mal vê a outra; cada uma pouco mais verá do que o seu metro quadrado de pasto, procurando salvar-se sozinha, nem que tenha de ferir a ovelha mais próxima. Por isso, o Bom Pastor, que vê o rebanho ameaçado pela dispersão, pela desorientação, pela fuga, pelo egoísmo e pela confusão, sai do redil, atravessa os vales tenebrosos, para agarrar, para guardar, para cuidar, para curar, para reunir e apascentar cada ovelha, no calor do seu abraço, no abrigo do seu redil.

2. Esta conhecida imagem do Pastor belo ilustra bem como é o coração de Deus, cuidador atento de cada um de nós. Mas a outra imagem, a de um dia de nevoeiro, traduz de modo muito adequado os tempos incertos, inseguros e imprevisíveis, que vivemos com o surto desta pandemia. Estamos a atravessar um denso tempo de nevoeiro. Não vemos nada ao longe. Vemos muito pouco e vemo-lo a muito curta distância. Deste modo, só podemos avançar, por passos pequeninos, até ao escasso horizonte do que a nossa vista alcança. Os tempos nebulosos da pandemia não nos deixam programar a nossa vida a médio ou a longo prazo. Ora, a tentação, quando perdidos no meio do nevoeiro, é pararmos com medo ou querermos voltar ao ponto de partida; ou é ainda a tentação de escaparmos sozinhos entre mortos e feridos. Mas o verdadeiro caminho de saída, num dia de nevoeiro, não é esse: é antes o de avançarmos todos juntos, devagarinho; é o de confiarmos no Pastor, que vai um passo adiante de nós e nos estimula a seguir em frente, na certeza de que, por ali, se acha passagem. Este é o tempo de nos deixarmos guiar, pela mão firme do Senhor, o Bom Pastor, que conhece o Caminho, que nos desafia a caminhar juntos, até que os nossos olhos se abram, iluminados pela Sua Luz, que dissipará todas as nossas trevas!

3.Irmãos e irmãs: neste tempo de pandemia, as lentes dos nossos óculos ficam embaciadas e intensificam o cenário nebuloso e quase nos impedem de ver os outros. Esse é o grande risco: ficarmos tão obcecados pela nossa proteção, pela nossa segurança, pelas nossas necessidades, que o nosso olhar fique embaciado, incapaz de ver o próximo e, portanto, incapaz de ver a Cristo, em todas as vítimas desta pandemia. Ora, o desafio maior é precisamente o de não virar costas ao sofrimento, o de se esforçar por olhar para o lado e ver os outros, de modo que ninguém fique para trás. Nesta pandemia, “existem dois tipos de pessoas: aquelas que cuidam do sofrimento e aquelas que passam ao largo; neste momento, quem não passa ao largo, ou está ferido ou carrega aos ombros algum ferido” (cf. FT 70). 

4.O ensinamento de Jesus, na parábola do juízo final, não nos permite fazer vista grossa: “Sempre que o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o deixastes de fazer” (Mt 25,45). Ganha aqui atualidade o pecado de omissão, o grande pecado contra os pobres, que alimenta o vírus da indiferença: «Isto não me diz respeito, não é problema meu, é culpa da sociedade»!  

5.Que este nebuloso tempo pandémico não provoque colisões e encontrões, mas proximidade e encontro. Para combater a pandemia da pobreza, da solidão, do isolamento, do descarte, comecemos por sair da nossa zona de conforto, para irmos ao encontro dos outros, praticando, cada dia, uma obra de misericórdia. Diz a Escritura: “Se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia” (Is 58,10). E assegura-te com esta promessa: “Para o homem misericordioso, compassivo e justo brilhará uma luz no meio das trevas” (cf. Sl 111/112,4a), mesmo que seja num cinzento dia de nevoeiro!

 

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