Homilia no XXXII Domingo Comum A 2020
1. Desta vez, não é a noiva que se atrasa! Na parábola do Evangelho é o esposo que se demora! E, com esta demora, as dez moças da parábola começaram todas a dormitar e adormeceram! Para as jovens prudentes, que estavam guarnecidas de azeite em abundância, a demora foi longa e dura de passar, mas não foi fatal. Para as jovens insensatas, com a demora do esposo, esgotou-se o combustível de consumo imediato, sem reserva para a espera. E, enquanto se foram reabastecer, chegou o esposo. Mas já era demasiado tarde e a porta estava fechada.
2. Escutámos esta parábola, que tem muitas e interessantes leituras. Mas, neste ano de pandemia, gostaria que nos fixássemos nesta “demora” prolongada do esposo, que aconselha a um cuidadoso reabastecimento de energia, sob pena de começarmos a dormitar e a adormecer, isto é, a baixar a guarda, a diminuir a vigilância, a ter comportamentos de risco. Cansaço, apatia, desmotivação e alguns comportamentos de risco são manifestações daquilo a que se chama hoje a "fadiga pandémica". Quando o ser humano passa por uma experiência prolongada de sacrifício, pode chegar ao ponto em que deixa de ter energia para o combate e se encontra sem a força moral necessária para manter a guarda face à situação de medo e de incerteza que vive. Nesta segunda vaga, vê-se que as pessoas estão cansadas e precisam de certezas e consolações, mas tais ainda não são possíveis. Desvanece-se a ilusória esperança de que “vai ficar tudo bem”. Precisamos de uma esperança maior, que se alimente de uma outra fonte, de uma outra energia.
3.Na verdade, o desmoronamento da nossa esperança começa, quase sempre, com a perda de qualidade da nossa vida espiritual. O problema de muitas pessoas não é «terem problemas», mas é o facto de não terem a força interior para os enfrentar.Na verdade, quando já não se tem energia interior, quando se perde o contacto com a fonte e se gasta tudo e depressa, quando se descuida do necessário investimento espiritual, quando já não se alimenta a própria fé, quando se entra numa prática religiosa relaxada… então depressa chegará o tempo crítico em que se apagará toda a esperança! Perante as restrições da nossa liberdade de fruir e usufruir, perante as limitações das “saídas” noturnas, de circulação, vêm ao de cima a nossa debilidade espiritual, a magreza da nossa silhueta espiritual, a nossa fragilidade substancial. Porquê? Porque não apostámos no fortalecimento da nossa interioridade e no cuidado da nossa alma, como investimos, por exemplo, no exercício físico e nos cuidados cosméticos do corpo. A renitência a tudo o que é penitência, a nossa alergia à austeridade e ao sacrifício, o descuido pela Educação Moral e Religiosa dos mais novos, um certo desprezo pelo cultivo espiritual e das virtudes, deixaram-nos rapidamente esgotados e cansados, sem ânimo, sem energia, sem motivação interior, impreparados para percorrer esta longa maratona de combate à pandemia, que exige tanto e está longe do fim.
4. Por isso, caríssimos irmãos e irmãs, para que não se apague a luz da esperança, não procuremos apenas reforçar a despensa ou o frigorífico, mas reforcemos a almotolia das nossas provisões interiores! Valorizemos mais, na escola, a opção pela disciplina de Educação Moral e Religiosa, onde se trabalham as motivações e se cultivam as virtudes sólidas para o fortalecimento de uma personalidade humana crente, dialogante e resiliente. Cuidemos mais, em casa, do silêncio e da boa leitura, da oração pessoal e, sobretudo, da liturgia familiar. Não relaxemos a nossa participação presencial na vida da comunidade paroquial, sobretudo na Eucaristia dominical, nem que seja nos dias úteis de semana. Procuremos ajuda espiritual no sacramento da Reconciliação… e (por que não?) aliviemos as nossas angústias, numa atenção do olhar, da mão, do coração, a quem mais precisa de nós.
5.Todos irmãos, todos unidos a Cristo, como ramos na videira, encontraremos novo vigor, para seguir em frente. Caminhemos juntos, na luz da esperança!