Homilia no IV Domingo da Páscoa A 2020
“Eu sou a Porta. Quem entrar por Mim será salvo” (Jo 10,9)!
1. O que mais desejaríamos nós hoje do que abrir as portas da nossa casa para deixar entrar a mãe, a família e os amigos? Ou então, fechá-las para sair ao encontro da nossa mãe, da nossa família alargada, de tantos amigos?! Encerrado o estado de emergência, abre-se-nos, devagarinho, uma porta estreita. Na verdade, para que serve uma porta, senão para entrar e sair? O próprio Jesus, Bom Pastor, designa-Se, a Si próprio, como Porta, por onde se entra e sai. Só n’Ele as ovelhas acham pastagem, para uma vida em abundância. Por esta Porta, que é Cristo, é preciso entrar e sair. Cristo não é apenas uma Porta, por onde se entra, para aí ficar descansado e recolhido. Não. Ele é também a Porta de saída, pois «chama cada uma das ovelhas pelo seu nome e leva-as para fora» (Jo 10,3). Quem entra por esta Porta, que é Cristo, é chamado a viver em ritmo de saída: saída de si mesmo para os outros, saída da Igreja para o mundo, pois é lá fora, e não dentro do abrigo, que as ovelhas encontram pasto para uma vida em abundância. Por outras palavras: o trabalho belo, que nos alimenta e nos torna saudáveis, espera-nos lá fora. Na verdade, quem fica fechado, para sempre, dentro de portas, “acaba por cheirar a mofo e criar um ambiente doentio” (GE 133). Por isso, nunca ansiamos tanto, por sair porta afora, como nestes dias, de portas fechadas.
2. Que significado pode ter, para nós, este sinal das igrejas vazias ou de portas fechadas? O Papa di-lo, desde a primeira hora: “Precisamos de abrir a porta a Jesus Cristo, porque Ele bate e chama (cf. Ap 3, 20). Mas pergunto-me se às vezes Jesus não estará já dentro de nós, batendo para que O deixemos sair” (EG 136). Talvez seja aquilo que acabou de fazer à Igreja, para a converter numa “Igreja em saída” (EG 49), uma Igreja que, hoje e literalmente, se torna um “hospital de campanha”, uma «obra da rua», uma Igreja entrosada com a vida das pessoas, nas aldeias e cidades (cf. Lc 8,1). Sejamos corajosos e tenazes em procurar Jesus do lado de fora!
3. Este sinal provocador de uma Igreja que fecha as suas portas, não será – queridos irmãos e irmãs – um desafio a abrir novas janelas para o Evangelho, na casa dos cristãos, para aí mesmo edificar e solidificar a Igreja doméstica? Confinados em nossa casa, não somos desafiados, por este sinal, a lançar as redes do Evangelho, pelo mundo digital? Neste Dia Mundial das Vocações, esta Igreja, de portas fechadas, que se replica, aberta em tantas Igrejas domésticas, não será um sinal de que é preciso ativar o sacerdócio batismal de todos os fiéis? Que belo é quando os pais e os corajosos casais cristãos se dão conta da presença de Cristo no meio deles e, em família, aprendem a rezar, a escutar a Palavra e a celebrar a vida cristã; que oportunidade extraordinária esta para os pais descobrirem a sua missão como primeiros educadores cristãos; até os nossos catequistas se reinventam, na capacidade de comunicar o Evangelho. Os ministérios da caridade desdobram-se para chegar mais depressa e mais longe. Os ministérios litúrgicos aprendem a falar a língua digital. Cada um é chamado a seguir os passos de Jesus, pelo seu próprio caminho (LG 11; GE 11), porque a cada um Ele chama pelo nome.
4. Irmãos e irmãs: esta abstinência dos sacramentos e de atividades, no interior da Igreja, não será um sinal do Bom Pastor, para sairmos e encontrarmos alimento «lá fora»? Sem o padre à mão para tudo e mais alguma coisa, não é esta hora uma graça, para redescobrirmos tantas vocações adormecidas, para aumentarmos o alcance do ministério dos leigos na Igreja? Não nos esqueçamos que, em muitos territórios, a Igreja sobreviveu sem clero por muitos séculos. Talvez este «estado de emergência» atual seja um indicador e até um acelerador do novo rosto da Igreja, que Jesus quer para este tempo novo, que não deve voltar atrás!
5. Neste Dia Mundial das Vocações e Dia da Mãe, aprendamos isto do Bom Pastor e de Maria: não podemos ficar confinados ao seio onde somos gerados. Somos lançados para fora, chamados pelo nome, chamados a sair da nossa zona de conforto, para encontrar lá fora o alento e o alimento de uma vida em abundância!