Liturgia e Homilias no II Domingo de Páscoa A 2020
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Este é o Domingo da Oitava da Páscoa. O primeiro dia da semana. O dia do encontro do Ressuscitado com a Sua Igreja reunida, na casa dos cristãos, como outrora no Cenáculo, na sala da Última Ceia. Este seria o domingo em que os novos batizados se apresentariam revestidos de Cristo, com a sua veste branca, para agradecer as riquezas do Batismo com que foram purificados, da unção espiritual do Crisma com que foram ungidos e renovados e do Corpo e Sangue da Eucaristia com que foram redimidos. Este é, desde o ano 2000, o domingo da Divina Misericórdia, que nos recorda o dom do perdão dos pecados, que brota das feridas e do lado aberto de Cristo Morto e Ressuscitado.

Homilia no II Domingo da Páscoa A 2020 | Transmissão pelo Facebook

 

Há um delicioso desenho que circula nas redes sociais, que traduz um diálogo imaginário entre Deus e o Diabo. O Diabo, feliz da vida, diz a Deus: “Consegui fechar todas as Igrejas”. E Deus responde “E eu consegui abrir uma Igreja em cada casa”. Esta nota de humor serve-nos de inspiração à nossa reflexão de hoje.

 

1.        Na verdade, tal como nós, os discípulos estão “confinados”, cheios de medo, à porta fechada, dentro da sala da Última Ceia.  Estão de portas fechadas, não por causa de algum vírus contagioso, mas com medo da perseguição dos judeus. Todavia, é aí, em casa, na sala da Última Ceia – o chamado Cenáculo – que se reúnem. E é aí que Jesus Se manifesta vivo e Ressuscitado, no primeiro dia da semana, o domingo. As portas fechadas não impedem Jesus de entrar, de Se colocar no meio deles e de ser, para eles, a Paz: a Paz que lhes dissipa o medo, que lhes restaura a confiança, que lhes dá serenidade para viverem aquela hora difícil. Agora estão confinados, mas este é um tempo rico de intimidade, de diálogo, de partilha, de proximidade, fortalecendo os laços da sua comunhão.

 

2.       Não vão ainda ao Templo, por causa dos judeus. Mas naquela sala, onde comem e bebem, onde partilham sentimentos, onde rezam juntos, Jesus faz-Se presente, porque está onde dois ou três se reunirem em Seu nome (cf. Mt 18,20). Um templo, uma Igreja, “uma Catedral realiza-se também pelas nossas mãos abertas, disponíveis e suplicantes, onde quer que nos encontremos. Porque onde há um ser humano, ferido de finitude e de infinito, aí se encontra o eixo de uma catedral” (Card. José Tolentino | cf. imagem da capa).

 

3.       E realmente o Cenáculo é a primeira Catedral, o primeiro “Templo cristão” que logo se ramifica em todas as casas e em todos os corações habitados pela presença do Ressuscitado. Até aos finais do século III, os cristãos não tinham lugares próprios de culto; os primeiros templos aparecerão por volta do século IV. A primeira comunidade dos cristãos, por causa da perseguição dos judeus, não tinha Templo e começou por se reunir na casa dos próprios cristãos (cf. 1 Cor 16,19; Rm 16,5; Cl 4,15; Flm 2). Casais, como Áquila e Priscila, oferecem a sua casa, como lugar onde se reúne a «Igreja», a assembleia dos cristãos (cf. 1 Cor 16,19). Muitas vezes era o dono da casa que presidia às reuniões dos cristãos. Aí aprenderam a construir uma Igreja à imagem de uma família, até que cada família aprende a edificar-se à imagem de uma Igreja.

 

4.       Esta é a inspiração que nos oferece a primeira comunidade dos cristãos (cf. 1.ª leitura): é uma comunidade familiar, de portas fechadas, mas de janelas abertas. É uma comunidade que cria uma imunidade de grupo, valendo-se de quatro vacinas fundamentais: eram assíduos ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do Pão e às orações. Esta vivência marcava também a vida familiar: os cristãos viviam como se tivessem uma só alma e um só coração, partiam e repartiam o pão em suas casas, tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração e louvavam a Deus.

 

5.       Irmãos e irmãs: nestes dias de privação e de provação, com as portas das Igrejas fechadas, abrem-se janelas de oportunidades, para abrirmos uma Igreja em cada casa, em cada família cristã, chamada a tornar-se “Igreja doméstica” (cf. LG 11; AL 15;86; CIC 1657). Deixo-vos quatro sugestões práticas:

 

5.1.      Criando um canto ou recanto, aí em casa, para a leitura da Palavra de Deus e para a oração pessoal ou familiar. Uma Bíblia, uma vela, uma toalha branca na mesa. Nesse canto podemos reunir-nos e dar mais tempo à escuta da Palavra e ao ensino dos Apóstolos. Vamos manter a Catequese à distância, cada um na sua casa e Deus na casa de todos, usando os recursos das novas tecnologias. Temos, porventura, mais tempo para ler a Bíblia, para meditar nas leituras de cada dia ou de cada domingo. Façamo-lo mais assiduamente.

 

5.2.     Fazendo da sala de jantar um cenáculo. As nossas refeições familiares sejam uma espécie de réplica da sala da Última Ceia. Podemos proceder à bênção da mesa, pelo menos aos domingos. Partilhemos os nossos sentimentos e a nossa vida. Repartamos o pão por todos. Tomemos o alimento com simplicidade e alegria de coração.

 

5.3.     Acompanhando a celebração da Eucaristia teledifundida (pelo Facebook, pelo YouTube, pela TV, pela Rádio). Façamo-lo não como quem está a assistir a um espetáculo religioso, mas a participar, de corpo e alma, na celebração do mistério pascal do Senhor. Adotemos as posições e atitudes, em tudo semelhantes àquelas que assumimos quando participamos presencialmente numa celebração na Igreja.

 

5.4.    Aproveitando a proposta semanal de uma liturgia familiar. Cada semana, estará disponível um esquema, para a oração em família, inspirado na liturgia dominical. São 10 a 12 minutos de celebração em casa. Façamo-lo de preferência ao domingo, o dia do Senhor. Mas se não for possível, façamo-lo ao sábado ou em outro dia mais conveniente à família.

 

E assim o Diabo não se ficará a rir, dizendo: “Conseguir fechar todas as Igrejas”. Pois Deus dirá, cheio de alegria: “E eu consegui abrir uma Igreja em cada casa”. Assim seja.

 

 

 

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