Homilia no Domingo de Páscoa A 2020 | Transmissão pelo facebook
1. Todos aqui renascemos! Foi com este propósito, que iniciámos o nosso caminho para a Páscoa. Tínhamo-lo programado, passo a passo, semana a semana. Mas, de repente, um vírus microscópico, um inimigo invisível instalou-se, como um terramoto, na nossa programação e obrigou-nos a mudar a rota, a transformar uma quarentena forçada numa quaresma reforçada. E assim chegámos todos, cristãos e não cristãos, sociedade e comunidade, a esta Páscoa, com uma vida renovada. O covid-19 preparou-nos para uma Páscoa co’vida-20, uma Páscoa de 20 valores, uma Páscoa em cheio, porque plena da força invencível da Ressurreição do Senhor!
2. Todos aqui renascemos! Esta não é, portanto, uma Páscoa, para esquecer. É uma Páscoa, que faz memória viva e autêntica da primeira, na manhã do primeiro dia. É uma Páscoa, para guardarmos na memória e contarmos às gerações futuras, como foi realmente possível todos aqui renascermos. Contemos e cantemos aos nossos vindouros como foi possível, perante a vastidão de um vírus tão mafioso, tão perigoso e tão fatal, termos aprendido a lição do essencial, termos assumido com humildade a nossa vulnerabilidade, termos reinventado a nossa vida social, termos descoberto que ninguém se salva sozinho, termos dado uma oportunidade à paz, termos voltado a casa e à família, termos aprendido a fazer da família a Igreja Doméstica, para hoje celebramos a Páscoa que Jesus mandou os discípulos preparar: “é em tua casa, que eu quero celebrar esta Páscoa” (Mt 26,18). Esta é verdadeiramente a Páscoa, em que todos renascemos, dos nossos medos vividos e vencidos, das nossas lágrimas escorridas ou enxugadas, dos nossos túmulos encharcados da podridão do nada, transformados em jardins limpos de vida nova.
3. Todos aqui renascemos! Esta é a Páscoa, que precisamos de contar e de cantar, de perpetuar e avivar às gerações futuras, como a Páscoa mais verdadeira das nossas vidas, a Páscoa em que a própria Natureza, agradecida do seu repouso sabático, se esmerou na sua beleza florida. Está é a Páscoa em que o poder do amor foi mais forte do que o medo e a morte. Esta é a nossa Páscoa c’o vida-20, não para esquecermos, mas para renascermos, como homens novos, para um tempo novo. Não é, portanto, uma Páscoa saudosa e desejosa de voltar, o mais depressa, «ao antigamente». Somos chamados a viver a Páscoa de Cristo, o Homem novo, que ressuscita numa vida nova e para uma vida diferente, para uma vida “em modo pascal”, uma vida projetada não para o chão mas para o Alto, não voltada para os nadas, mas orientada para Deus. Não nos contentemos, irmãos, nesta Páscoa, em sair da sepultura, como Lázaro, para voltarmos à vida que tínhamos. Não. Deixemos que a força da Ressurreição, capaz de remover para sempre a pedra do sepulcro, nos despoje dos velhos hábitos de exploração da Natureza, de desprezo dos outros, de obcecada procura do efémero e assim nos faça renascer para uma vida cada vez mais humana, mais familiar, mais justa e mais solidária, quer dizer, mais pascal.
4. Todos aqui renascemos! A ressurreição de Cristo produz por toda a parte rebentos deste mundo novo. Haverá muitas coisas más, nesta pandemia, que nos fazem sofrer, mas o bem maior e o bem comum tendem sempre a reaparecer e a espalhar-se. Vemo-lo, em tantos sinais vitais de vitória sobre o egoísmo, sobre o mal e sobre a morte. Os grandes valores, da generosidade, do serviço, da gratuidade, tendem a reaparecer sob novas formas, e na realidade, o ser humano renasce, muitas vezes dos escombros da dor e da morte, de situações que nos pareciam irreversíveis.
5. Todos aqui renascemos! E todos aqui renasceremos, com esta pandemia, se esta for a oportunidade da nossa vida para a nossa vida não ser mais a mesma. Que seja uma vida nova, uma vida diferente. Se não for desta (vez) que a nossa vida ressuscita, de que precisaremos então para acordar da morte em que vivemos, se Cristo ressuscitou? Eu creio que a Ressurreição do Senhor não foi, não é em vão. Porque nela todos aqui, renascemos, para uma Páscoa c0’vida-20.
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Ver em anexos propostas celebrativas para uma liturgia familiar na noite e no dia de Páscoa.