Liturgia e Homilia na Quarta-feira de Cinzas 2020
Destaque

Todos aqui renascemos”. A ideia de «renascer», de regenerar, de renovar, de reconciliar, de reconduzir toda a vida à luz da fé, aplica-se bem à Quaresma, “que é um tempo propício para nos prepararmos a fim de celebrar, de coração renovado, o grande mistério da morte e ressurreição de Jesus, pedra angular da vida cristã pessoal e comunitária” (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma 2020, n.º 1). Este é um tempo para nascer e “renascer uma e outra vez” (Ibidem; cf. Christus vivit, n.º 123), seja pela celebração dos sacramentos da iniciação cristã, seja pela renovação das promessas batismais, seja pela celebração da Reconciliação. Hoje a Liturgia desafia-nos com o mesmo prefixo “re”, nas palavras do apóstolo Paulo: “reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5,20).

Homilia na Quarta-Feira de Cinzas 2020

1. Todos aqui renascemos! Este novo nascimento declinar-se-á em vários tempos e modos, desde o início da Quaresma até à Páscoa de 2020: renunciar (1.ª semana), revestir (2.ª semana), renovar (3.ª semana), reconhecer (4.ª semana), reviver (5.ª semana), reinar (Semana Santa) e tudo isto para ressuscitar com Cristo (noite, dia e tempo de Páscoa).Na Liturgia deste 1.º dia da Quaresma, este repetido prefixo “re” … ressoa especialmente no apelo do apóstolo Paulo: «reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5,20). Se tudo se pudesse “resumir” numa só imagem, a Quaresma é sobretudo um tempo favorável para “reflorir” a beleza e a graça da nossa vida batismal, para celebrarmos, de coração renovado, o mistério pascal. 

2. Para chegar a reflorir, a nossa vida cristã precisa não de uma mera cosmética, mas de uma grande poda! A ação do Pai, segundo Jesus, na alegoria da videira, que nos inspira, é precisamente esta: “Ele corta todo o ramo que não dá fruto em Mim e limpa o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda” (Jo 15,1-2). Os dois verbos usados, “cortar e limpar”, têm, na língua grega, a mesma raiz e sugerem-nos uma radical operação, um corte de limpeza, isto é, de despoluição interior, de modo a renovarmos o Batismo na frescura da água viva, na transparência da luz de Cristo, morrendo e ressuscitando com Ele, para vivermos uma vida nova.

3. Retomemos então esta bela imagem da poda, para os nossos exercícios quaresmais. Uma poda que é diversa na sua ação e na sua finalidade:

3.1.Primeiro, uma poda de formação:é executada nos primeiros anos de vida da planta. Visa garantir uma estrutura forte e equilibrada, com ramos bem distribuídos. Não esqueçamos que os recém-batizados recebem o nome de neófitos, que significa “plantazinhas” e que esta planta frágil carece de cuidados, para poder crescer de modo ordenado e frutificar como se espera. Podemos dar esta finalidade às catequeses, orações e celebrações quaresmais e, em geral, a todos os nossos exercícios espirituais da Quaresma: eles destinam-se “a romper a dureza do nosso coração” (Mensagem para a Quaresma, n.º 2), a revigorar a própria fé, a torná-la mais enraizada em Cristo, para poder florir em beleza e dar bom fruto.

3.2.Segundo, uma poda de frutificação:ela tem por fim uniformizar e melhorar a frutificação, controlando o excesso de vegetação da planta, que levaria a uma diminuição da qualidade da fruta e ao envelhecimento precoce das árvores.  O objetivo do jejum e da abstinência quaresmais, da austeridade alimentar, da sobriedade e da simplicidade de vida, nesta quarentena, também é este: “libertar-nos dos excessos, reprimir os vícios e elevar o espírito” (cf. Prefácio da Quarema IV), de modo que “no combate contra o espírito do mal, sejamos fortalecidos com o auxílio da temperança” (Oração coleta da 4.ª-Feira de Cinzas), evitando a conversa fiada, o ruído das palavras e o excesso das imagens. Trata-se de uma penitência que visa dar beleza e qualidade espiritual à nossa vida cristã.

3.3.Terceiro, uma poda de rejuvenescimento: destina-se a reativar a produtividade perdida. Trata-se, na nossa vida dos cristãos e na vida das nossas comunidades, de identificar os nossos “podres”, para cortar pela raiz o que nos impede de frutificar. A celebração da Reconciliação (Confissão) como “segundo Batismo” pode viver-se nesta perspetiva do “rejuvenescimento” e do “renascimento” da graça batismal. Reconciliemo-nos com Deus, com os outros, connosco próprios, através da Igreja. «Assim, poderás renascer uma e outra vez» (Mensagem para a Quaresma, n.º 1).

3.4.Quarto, uma poda de limpeza:é uma poda sumária, em que se fazem pequenos cortes na abertura da copa, para existir um certo arejamento no interior da árvore e um bom desenvolvimento dos frutos. Se Jesus nos diz: “Vós já estais limpos por causa da Palavra que vos anunciei” (Jo 15,3), nunca será de mais insistir nesta ação de limpeza, que o contacto e familiaridade com a Palavra de Deus nos proporciona, “deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade” (Mensagem para a Quaresma, n.º 2).O exercício da Lectio Divina é um precioso contributo. Assim como os camponeses no fim do inverno espalhavam nos campos as cinzas acumuladas no tempo frio, para revigorar a terra, assim também a Palavra de Deus é capaz de infundir novas energias na nossa vida, para a fazer reflorir e frutificar. Escutemo-la e meditemo-la mais frequentemente, a sós no nosso quarto, em família, à mesa, em comunidade reunida, mas sempre em clima de escuta, de silêncio, de diálogo e de oração. Precisamos tanto de rezar. Se o queremos fazer melhor, rezemos mais vezes.

4.Todos aqui renascemos. Irmãos e irmãs:vivamos este tempo santo da Quaresma como exercício de poda espiritual, na esperança de ver reflorir o nosso Batismo, uma vez que, por ele, somos todos enxertados na Páscoa do Senhor, para renascer uma e outra vez!

 

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