Liturgia e Homilias no XXV Domingo Comum C 2019
Destaque

Neste início do ano pastoral, a Liturgia da Palavra vem recordar-nos que é precisa uma santa astúcia, uma esperteza evangélica, na causa da Boa Nova e do Reino. Trata-se de uma fidelidade criativa, que saiba propor o Cristo de sempre aos homens e mulheres de hoje, abrindo assim janelas de futuro, na missão da Igreja. Na mesma fidelidade à memória viva da Páscoa do Senhor, encontramo-nos aqui para celebrar o domingo, na alegria dos batizados. Comecemos por reconhecer que, sem Ele, não sabemos sequer o que fazer! E, desde já, “ergamos para o Céu as nossas mãos santas, sem ira nem contenda” (cf. 2.ª leitura).

Homilia no XXV Domingo Comum C 2019

1. Um explorador, um trapaceiro e um homem fiel! A Palavra de Deus dava-nos matéria para um grande debate político entre os três. Amós introduziria o tema da exploração dos pobres, da corrupção e do lucro fácil. Na cátedra, um administrador desonesto mereceria, pela sua grande astúcia, os maiores elogios da oposição liderada por Jesus. E, à vista disto, São Paulo não recomendaria o voto neste ou naquele candidato, limitando-se a pedir-nos que rezássemos por quem nos governa! Como vedes, teríamos aqui temas fortes da campanha eleitoral. Mas o pregador tem de ser prudente, para não transformar a homilia num comício!

2. Por isso, focar-me-ei na astúcia, isto é, na esperteza daquele administrador desonesto. Não obviamente para o imitarmos na sua desonestidade, mas para aprendermos dele a usar a mesma esperteza, ao serviço da Boa Nova e da edificação do Reino. Fixemo-nos em três características apreciáveis deste administrador, que nos podem ajudar a uma conversão pastoral e missionária:

2.1.Primeiro: aceitar a realidade. Este homem vê-senuma situação nova. Percebe que “não pode deixar as coisas como estão” (EG 25). E por isso interroga-se: “Que hei de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração?” (Lc 16,3). Este homem é capaz de discernir com realismo a situação crítica em que se encontra. Sabe captar a urgência da hora. Também para nós, em Igreja, “neste momento não nos serve uma simples administração. Constituamo-nos em estado de missão” (EG 25). “Gostemos ou não, somos chamados a encarar a realidade como ela é. Os tempos mudam e devemos reconhecer que muitas vezes não sabemos como inserir-nos nos novos tempos, nos novos cenários; podemos sonhar com as «cebolas do Egito» (Nm11, 5), esquecendo que a Terra Prometida está à frente, não atrás, e neste lamento pelos tempos passados, vamo-nos petrificando, vamo-nos «mumificando». E isso não é bom! Em vez de professar uma Boa Nova, o que anunciamos é algo cinzento que não atrai nem inflama o coração de ninguém. Esta é a tentação” (Papa Francisco, Discurso, Maputo, 5.9.2019). Ora, para a frente é que é o caminho!

2.2.Segundo: reconhecer os limites.Aquele homem assume a sua fraqueza: “Para cavar não tenho força; de mendigar tenho vergonha” (Lc 14,7). Sabe que, sozinho, não tem saída. Então, faz amigos como pode e começa a urdir uma teia de influência. Este homem ensina-nos, em Igreja, a não nos deixarmos bloquear pelos nossos limites, a deixarmo-nos ajudar, a trabalhar em equipa, com todas as nossas diferenças, de modo a reunir o melhor de cada um. Vale mais o pouco feito em comunhão, do que o muito sem a colaboração de todos.

2.3.Terceiro: tomar uma decisão, preparando o futuro.Este é um homem que decide com prontidão, inteligência e largueza. Ele realiza gestos concretos, que lhe garantam um futuro! Ora, se os filhos das trevas sabem agir com astúcia, para encontrar um caminho de saída, porque é que nós, os batizados, filhos da luz, não temos a mesma astúcia, para discernir a urgência missionária desta hora e fazer as mudanças que se impõem?! É a isso que nos desafia Jesus, quando nos convida a ser astutos como as serpentes e simples como as pombas. Unir estas duas dimensões – astúcia e simplicidade – é uma graça do Espírito Santo, que devemos pedir, para não cairmos na tentação do cómodo critério pastoral do «fez-se sempre assim» (EG 35). 

3. Aqui, na Paróquia, em início de ano pastoral, «convido todos a serem ousados e criativos» (EG 33). A criatividade é a forma de sermos fiéis às pessoas concretas, que temos pela frente, adaptando-nos às suas idades, sensibilidades, linguagens, respondendo aos seus anseios concretos. Desafio-vos, por isso, a uma fidelidade criativa, isto é, a uma nova fantasia, na vida pastoral: uma nova fantasia no anúncio da Palavra, aproveitando os recursos das novas tecnologias, as dinâmicas de grupos, as novas linguagens digitais; uma nova fantasia no serviço da Liturgia, valorizando a participação de todos os fiéis, a riqueza do património da arte sacra, a beleza da música, a alegria da dança. “É hora, enfim, de uma nova fantasia da caridade, de modo que os pobres (das novas e velhas pobrezas) se sintam, nesta comunidade cristã, como em sua casa” (João Paulo II, NMI 50).

4. Irmãos e irmãs: o resto deixo mesmo por conta da vossa fantasia… Queira Deus, que algum de vós possa recomeçar esta homilia, com um golpe de génio e dizer, lá no seu íntimo: «Já sei o que vou fazer» (Lc16,4)! Olha para a realidade de frente! Decide-te a mudar o que é preciso. Sê inovador e criativo, no seio da tua comunidade. Ajuda a abrir novos caminhos de saída e com saída para o futuro que é já agora, é hoje mesmo.

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