Homilia no XXIV Domingo Comum C 2019
1. Precisávamos desta vida e da outra para contar e compreender esta única parábola, nas três belas imagens da ovelha perdida no deserto e da dracma perdida em casa, que nos preparam para entrar no coração inquieto do Pai, que procura um filho perdido em terra longínqua e outro tão perdido entre os cantos da casa, que não quer entrar. Curiosamente, o nosso Deus, revelado em Cristo, só sabe contar até um: uma ovelha em cem, uma dracma em dez e dois filhos que, afinal, são únicos.
2. Hoje convido-vos a fixarmo-nos numa observação típica de São Lucas, a respeito dos tempos desta busca: «até a encontrar» (Lc 15,4.8). Podíamos ser tentados a sair à procura “até um certo tempo”, mas não: é mesmo preciso procurar «até a encontrar». Este «até» define a fórmula da esperança que nasce em Deus. Ele há de encontrar. Esta expressão aparece também na parábola do fermento «até que tudo fique levedado» (Lc 13,20-21; Mt 13,33)e São Paulo fala-nos da Eucaristia, celebrada em memória da morte do Senhor «até que Ele venha» (1 Cor 11,26).Temos, portanto, um claro desafio missionário: dentro de casa e fora dela, é preciso sair à procura de cada pessoa até a encontrar. Esta busca de salvamento não tem limites pré-fixados. A busca, movida pelo amor obstinado de Deus por cada pessoa, só termina com o encontro. Só então haverá festa.
3. No rebanho da nossa comunidade há sempre alguém que falta, alguém que partiu e deixou um lugar vazio, nos bancos da Igreja, da catequese, ou nos lugares de serviço. Às vezes, isto é desanimador, porque, a certa altura, já não se trata de deixar 99 por 1, mas de deixar 1 por 99. Parece uma perda inevitável, uma hemorragia, sem controlo. Dizia o Papa Francisco nas Ilhas Maurícias: “Quando ouvimos o prognóstico ameaçador «somos cada vez menos», deveríamos preocupar-nos em primeiro lugar, não com o declínio desta ou daquela forma de consagração na Igreja, mas com a carência de homens e mulheres que queiram viver a felicidade pelos caminhos da santidade, homens e mulheres que deixem o coração inflamar-se com o anúncio mais belo e libertador” (Homilia, 9.9.2019). E lembrou o Papa mais uma vez: «Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, [sem] a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, [vivem] sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida» (EG 49). Como não havemos de os procurar, até os encontrar?! A salvação não está em cuidar por manter, mas em arriscar!
4. Este é o nosso trabalho de setembro, na nossa comunidade: falta um(a) catequista? Procuremos até o(a) encontrar. Falta um(a) cantor(a)? Procuremos até o(a) encontrar? Falta um(a) acólito(a)? Procuremos até o(a) encontrar! Falta neste grupo de catequese uma criança, um(a) adolescente, um(a) jovem? Procuremos até o(a) encontrar! Falta neste grupo pastoral alguém para colaborar, no serviço da Palavra, da Liturgia, da Caridade, da guarda, da limpeza ou da beleza da nossa Casa? Procuremos até o(a) encontrar! Falta alguém naquela cadeira vazia da nossa Igreja? Que lhe aconteceu? Porque não voltou? Está zangado(a)? Está doente? Morreu?! Procuremos até o(a) encontrar! Insisto contigo, meu irmão e minha irmã: não é para procurares a ver se encontras; é para procurares até encontrares!
5. Irmão, irmã: vai à procura do teu irmão, da tua irmã até o(a) encontrares. Parece-me ouvir o recado do meu pai e da minha mãe, quando me mandavam procurar pinhas no monte: “Só voltas a casa com o saco cheio”. Apetece-me dizer-te: «Só voltas para esta Festa, quando trouxeres de volta a ovelha que foste procurar». Procura, pois, até a encontrares! E deixa-te encontrar.