Liturgia e Homilias no XXIII Domingo Comum C 2019
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O país regressou a casa, o ano escolar está à porta e setembro é o mês de todos os recomeços, também nesta comunidade. Em Portugal, a campanha eleitoral está na rua, com os políticos à pesca, nas praças e nas múltiplas redes sociais e de comunicação. Esperam-se, agora, os afamados banhos de multidão e até o tempo promete. Bem vistas as coisas, já não é nada como no tempo de Jesus, que não quer multidões de iludidos, mas discípulos e homens livres; promete cortes e não reversões. Perante a escalada da sua exigência, sentimos a prisão dos nossos pecados e invocamos a sua misericórdia.

Homilia no XXIII Domingo Comum C 2019

1. Naquele tempo – diz o Evangelho – e sem campanha eleitoral, seguia Jesus uma numerosa multidão! E esta onda de popularidade, quase a roçar a maioria, não satisfaz Jesus; antes O preocupa! Vai daí, Jesus sobe a fasquia, anuncia cortes e não promete reversões. O seu discurso não é de modo a engrossar as fileiras de seguidores iludidos, mas espanta a caça e arreda a pesca! Jesus desafia os discípulos a revirar a sua escala de valores e a reconfigurar totalmente a ordem de prioridades. Se alguém quer seguir Jesus, não pode ser Seu discípulo a qualquer preço. E no preço está tudo incluído: os laços familiares, os bens e a própria vida. Ora “aquele que pede tudo, também dá tudo, e não quer entrar em nós para mutilar ou enfraquecer, mas para levar à perfeição” (GE 175). Por isso, renunciar não é abandonar a família, o que seria trair o mandamento divino; renunciar não é deitar tudo a perder, porque até as mulheres serviram Jesus com os seus bens; renunciar à própria vida não é descuidar-se dela, mas embelezá-la no amor. Renunciar para seguir Jesus é pôr no coração do nosso coração a relação com Cristo, deixando que seja Ele o Rei e Senhor de tudo. Neste sentido, seguir Jesus transformará no amor as nossas relações familiares e sociais, fará dos nossos bens pessoais um instrumento de partilha e a nossa vida tornar-se-á um dom para os demais. Renunciar significa deixar que Cristo reine para O seguirmos e servirmos com tudo o que somos e temos.  

2. Se é assim… é preciso então ter a coragem de se decidir, de cortar a eito, para seguir em frente, com Jesus, no caminho da Cruz. E esta decisão – como nos adverte Jesus – exige ponderação, discernimento, avaliação. Estaremos à altura de concluir o que começámos? Teremos condições para vencer esta batalha? A nossa tentação é a de encontrar aqui uma boa desculpa, para não nos comprometermos com Cristo e com a Igreja, a partir de um calculismo egoísta: “Não quero prometer e depois não cumprir”; “Prefiro não me comprometer, porque não estou seguro de não vir a faltar”, “Não me sinto capaz desta missão”; “Não sei se tenho as condições necessárias para desempenhar esta função”. Pois é. Mas a questão que Jesus nos põe não é essa. Não é uma questão de capacidade ou desempenho. A questão para ti é a de saberes se te decides por Ele ou não… se Lhe ofereces o coração do teu coração ou não… se te queres deixar amar e guiar por Ele ou não; se O queres deixar agir em ti e por ti ou não. É isto e só isto mesmo que está em questão. 

3. Por isso, faço-te um apelo, querido irmão, querida irmã: senta-te, por algum tempo, em oração, em diálogo com o Senhor. Invoca o Espírito Santo, para que te liberte e expulse aquele medo que te leva a negar-Lhe a sua entrada em alguns espaços da tua vida (cf. GE 175). Quando sentires a tentação de te enredares na tua fragilidade, levanta os olhos para o Crucificado e diz-Lhe: «Senhor, sou um miserável! Mas Tu podes fazer o milagre de me tornar um pouco melhor» (cf. GE 15). Faz um discernimento, atento, humilde, verdadeiro, não para descobrires que mais proveito podes tu tirar desta vida, mas para reconheceres como cumprires melhor a missão, que te foi confiada no Batismo (cf. GE 174). Isto implica estares disposto, desde já a renunciar a tudo, isto é, a dares tudo por tudo (cf. GE 174).

4. Querido irmão, querida irmã: estamos a iniciar um novo ano pastoral, marcado pela redescoberta do Batismo. Convido-te a deixares que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade (cf. GE 15), de liberdade para amar e servir. O Reino de Deus, no coração da Igreja e do mundo, precisa tanto de ti, nesta terra, nesta paróquia, nesta comunidade, como Paulo precisou outrora de um tal Onésimo, o escravo útil e proveitoso, que depressa se transformou em irmão muito querido. Deixa que te diga e até que te troque o nome: faz-te “Onésimo” nesta comunidade! Não sejas escravo dos teus medos e comodidades; sê útil e proveitoso aos demais. Peço-te uma vez mais e pedi-lo-ei até à enésima vez: sê Onésimo, se queres ser livre em Cristo e irmão de todos.

 

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