Homilia na Solenidade de Todos-os-Santos 2022
1. Recebemos, com alegria, há poucos dias, os símbolos da Jornada Mundial da Juventude. No centro das atenções, a Cruz peregrina, que aponta para “Cristo vivo, nossa esperança” (CV 1). Ao lado, o ícone de Maria, a jovem de Nazaré, que arriscou tudo por Deus e, por isso, é ainda hoje a mais bela e influente de todas as figuras, na bela galeria dos Santos da Igreja (cf. Ch.vivit 44). É bom recordar hoje os jovens santos, para não cairmos no risco de transformarmos este dia numa espécie de romagem ao passado, de homenagem a figuras ilustres carregadas do pó dos séculos, a maior parte «santos» em idade adulta. Às vezes, fica-nos a ideia de que a juventude seja apenas a fase da fuga da Igreja, da diversão e do pecado, uma idade completamente fora do horizonte da santidade. Mas não. “O coração da Igreja está cheio também de jovens santos, que deram a sua vida por Cristo, muitos deles até ao martírio. Constituem magníficos reflexos de Cristo jovem, que resplandecem, para nos estimular e para nos arrancar da modorra. Muitos jovens santos fizeram resplandecer os traços da idade juvenil, em toda a sua beleza e foram, no seu tempo, verdadeiros profetas de mudança. O seu exemplo mostra do que os jovens são capazes, quando se abrem ao encontro com Cristo” (cf. Ch.vivit, 49).
2. Na sua Exortação Apostólica Christus vivit, dirigida aos jovens e a todo o Povo de Deus, o Papa Francisco desfia o perfil de uma série de santos jovens (cf. Ch.vivit 49-63), mais ou menos conhecidos: São Sebastião, São Francisco de Assis, Santa Joana d’Arc, São Domingos Sávio, sem esquecer alguns mais recentes, como o Beato Pedro Jorge Frassati, «jovem de uma alegria contagiosa mesmo nas grandes dificuldades da vida»; o Beato francês Marcelo Callo, morto num campo de concentração, onde reconfortava os seus companheiros; a jovem Beata Clara Badano, que transfigurou toda a dor pelo amor. Na mesma Exortação é citado um jovem beatificado há dois anos: Carlos Acutis. Génio da informática, fez do seu computador um instrumento ao serviço de Deus e da internet uma via para evangelizar, divulgando o seu amor pela Sagrada Eucaristia, a que chamava a sua «autoestrada para o céu». Ele dizia: “todos nascemos originais, mas alguns morrem como fotocópias” (cf. Ch. Vivit, 107; 162). Não permitamos que isso nos aconteça.
3. Irmãos e irmãs: nos tempos que correm, a nossa Igreja em Portugal, é vista pelos meios de comunicação social, apenas sob a aparência visível do seu lado institucional. E é acusada de ser uma espécie de abrigo invisível de abusadores de menores e de encobridores. Estes holofotes cegam-nos e não nos deixam ver o rosto mais belo da Igreja, que é a santidade (cf. GE 9). Por isso, faz-nos bem conhecer a vida de tantos santos de ao pé da porta, muitos deles bem jovens, que nos dão a esperança de uma humanidade nova e de uma Igreja renovada. “O bálsamo da santidade gerada pela vida boa de muitos jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo, levando-nos àquela plenitude do amor para a qual, desde sempre, estamos chamados” (CV 50). Os jovens, que peregrinam connosco, em Igreja, na catequese, nos diversos grupos e movimentos, lá fora, como inovadores e provocadores de um mundo novo, são «o agora de Deus» (Ch. Vivit, 64; 178); eles mostram-nos o rosto de uma Igreja viva e santa, cuja vida se esconde com Cristo em Deus! Eles mostram-nos que, apesar de tudo, antes de tudo e acima de tudo, a Igreja… é a Igreja dos santos!
4. A caminho da JMJ, invoquemos os santos, em especial os 13 patronos, mulheres, homens e jovens, que demonstraram que a vida de Cristo preenche e salva a juventude de sempre. São homens e mulheres nascidos na cidade de Lisboa, ou naturais de outras geografias, que se apresentam como modelos para a juventude. Invoquemos sobretudo, na nossa Diocese do Porto, a Irmã Maria do Divino Coração, a quem confiamos o êxito deste grande acontecimento, para que esta Jornada Mundial da Juventude se torne geradora de jovens felizes, de jovens santos, porque não há maior infelicidade que a de não sermos santos. Por isso, nada mais urgente, para as nossas feridas, no corpo doente desta Igreja que somos, do que este bálsamo de juventude e de santidade.