Liturgia e Homilias no XXX Domingo Comum B 2021
Destaque

Não podemos calar o que vimos e ouvimos” (At 4,20). Não podemos deixar de testemunhar, com a palavra e a vida, os frutos do nosso encontro libertador com Jesus Cristo, que dá à nossa vida uma grande alegria, um novo horizonte e um rumo decisivo! Mas também não podemos calar o grito dos sem voz e a voz dos que gritam a partir das margens da vida e da sociedade, e pelo quais Deus nos está a chamar e a falar.  Neste Dia Mundial das Missões e em tempo de aprendizagem do caminho sinodal, deixemo-nos iluminar pelo cego, que recuperou a vista, e nos dá uma visão nova, uma visão na visão dos outros, com os quais aprendemos a olhar o mundo com novos olhos e a seguir juntos por um caminho novo.

Homilia no XXX Domingo Comum B 2021 | Dia Mundial das Missões 2021

1. Por que não te calas?! Assim reagem alguns, ao ouvir os gritos incómodos daquele cego, sem eira nem beira, que sente o cheiro e os passos de Jesus, que passava por ali. Muitos repreendiam-no para que se calasse, mesmo se da voz daquele pobre homem saísse uma exclamação perfeita da fé em Jesus, o Messias. Por isso, o nosso homem não se cala. Não pode calar o grito de abandono. Não pode calar a sua fé e confiança em Jesus. Fala, em alta voz, até fazer ressoar, das margens da vida, o seu grito por misericórdia. Perante isto, alguns, percebendo a manifesta vontade de Jesus em chamá-lo, estimulam-no a sair das margens, para dar um salto qualitativo na sua vida: “Coragem, levanta-te, que Ele está a chamar-te”. O homem, que se levantou do chão, saiu liberto do encontro com Cristo: recuperou a vista e seguiu Jesus. Não sozinho nem à margem; vão todos juntos, por um caminho novo: Jesus e os Doze, o cego atrás de Jesus, entre os discípulos e no meio da multidão.

2. Há muitos pormenores nesta cena comovente do Evangelho. Mas, tendo em conta o tema do Dia Mundial das Missões “Não podemos calar o que vimos e ouvimos” (At 4,20) e este tempo de aprendizagem sinodal, eu destacaria duas atitudes: por um lado, a coragem do cego Bartimeu em falar, em gritar, sem se calar, a partir das margens da sua vida; por outro, e em contraluz, esta tentação de alguns em silenciar o seu grito de fé. Nesta medida, o cego, que segue Jesus por um caminho novo, também nos pode abrir os olhos para vermos os outros com as lentes do coração, para vislumbrarmos o interior das coisas, para aprendermos a “sinodalizar”, isto é, a escutar por amor e a falar por amor. Como? Ouvindo mais, falando menos. Expliquemo-nos melhor:

2.1. Ouvindo mais!Para ver bem a realidade, é preciso aprender a ouvir o grito de fé ou o grito de fome, o grito de protesto ou o grito de sede, o grito de angústia ou o grito de liberdade dos pobres, dos que estão à margem. Ao escutar, a Igreja segue o exemplo do próprio Deus, que escuta o grito do seu povo. Não podemos, por isso, nas nossas comunidades e sociedades, ouvir apenas os que têm voz ativa ou os que fazem mais ruído mediático. Precisamos de aprender a ouvir todos e cada um, sem esquecer os mais pequeninos e os mais jovens; ouvir todo o povo de Deus, mesmo os que não gostamos de ouvir; ouvir os que achamos que não têm direito ou autoridade para falar, porque os colocamos do «lado de fora»; ouvir a totalidade dos fiéis, que, em matéria de fé, não pode enganar-se, porque todo o santo povo de Deus é assistido pelo Espírito Santo. Estou convencido que a primeira palavra que teremos a anunciar aos outros é a Palavra que Deus nos diz nas suas vidas e que precisamos de aprender e ensinar a ler. É preciso que cada um se torne então um bom ouvinte, interessado na escuta dos que têm histórias de vida para contar, a fim de lhes desvendar a presença de Deus neles (cf. EG 71). Isto, sim, é decisivo, porque ouvindo-nos, vamos encontrando juntos o caminho, refazendo posições, acolhendo novidades, alargando horizontes, deixando cair as nossas bandeiras, para nos tornarmos todos um só em Jesus Cristo. Na missão, antes do «ide e anunciai» está o «ide e escutai». Só ouvidos puros podem dar-nos falas de água pura e de verdade.

2.2. Falando menos. À humildade de escutar deve corresponder a coragem de falar. E este é um tempo para falar menos, mas para falar com coragem e honestidade autênticas, de dizer livremente a verdade na caridade.Não se trata de entrar em debate para vencer ou convencer os outros, para criar grupos de pressão ou de opinião. Trata-se, antes (e insistamos!) de acolher o que os outros dizem, como um modo através do qual o Espírito Santo pode falar para o bem de todos (cf. 1 Cor 12,7). Temos de deixar os outros falar até ao fim, sem pressa de darmos a nossa opinião, antes pelo contrário, sempre dispostos a mudar as nossas opiniões, com base no que ouvimos, porque Deus fala-nos através dos que os outros nos têm a dizer.

 

3. Neste Dia Mundial das Missões, em clima sinodal, o Espírito Santo nos dê a humildade de escutar, com ouvidos puros, os gritos e anseios de todos… e a coragem de falar, de contar, de dar testemunho aos irmãos de tudo quanto vimos ou ouvimos, de tudo quanto vai mudando e embelezando a nossa vida, a partir do nosso encontro com Cristo. Seja onde for, seja diante de quem for, “não podemos calar o que vimos e ouvimos” (At 4,20)! Por que te calas então?

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