Homilia na Sexta-Feira Santa 2016

1.«Cruz da misericórdia»! Foi assim que a designámos, decorámos e construímos, sinalizando-a, com as sete obras de misericórdia corporais, pelas quais tocámos a carne sofredora de Cristo, e revivemos a Sua Paixão, nos irmãos que hoje padecem fome, sede, frio, desabrigo, doença, prisão ou morte.

2.«Cruz da misericórdia»! Foi assim que a anunciámos, há pouco, na proclamação da Paixão, segundo São João. Na Cruz revela-se, ao máximo, o amor de Deus pela humanidade. É o que nos recorda o mesmo Evangelho: «Deus amou tanto o mundo, que nos deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,16). Crer neste amor, significa acreditar na misericórdia!

3.«Cruz da misericórdia»! É assim que a invocaremos, de seguida, na mais universal das orações dos fiéis, onde unimos à gloriosa Paixão de Cristo todos os sofrimentos e angústias do tempo presente. E é assim que a apresentaremos, ao mundo, para a tocar e beijar, num gesto de adoração, como quem se aproxima de um trono de graça, para alcançar misericórdia!

 

4.«Cruz da misericórdia»! Talvez alguém pudesse contestar: não é antes a cruz da crueldade, da malvadez, da violência, da intolerância, da desumanidade suprema, num filme, que todos os dias passa, ao vivo, diante dos nossos olhos? São irmãos nossos, perseguidos e assassinados por causa da sua fidelidade a Cristo; é toda uma multidão de refugiados, que deixámos morrer, no frio dos nossos muros farpados; é a corrupção desenvergonhada, que mina a confiança e contamina a sociedade; é a exploração, sem escrúpulos, de pessoas e países mais pobres; é a banalização do mal, que se exprime na cega violência do terrorismo! Ora, diríamos, que é precisamente, por tudo isto, que faz falta anunciar, expor e adorar a Cruz de Jesus. “Contemplando a Cruz do Senhor, podemos compreender, em profundidade, o que é o pecado, como é trágica a sua gravidade, mas, ao mesmo tempo, como é incomensurável o poder do perdão e da misericórdia do Senhor” (Bento XVI, Angelus, 25.02.2007). A Cruz de Jesus mostra-nos que a espiral recessiva do mal, só pode ser vencida pelo amor. “A Cruz de Jesus é, por isso, a Palavra com que Deus responde ao mal do mundo: uma Palavra que é amor, misericórdia, perdão(…) A palavra da Cruz é também a resposta dos cristãos ao mal que continua a agir em nós e ao nosso redor(Papa Francisco, Discurso, 29.03.2013). Por meio da Cruz de Cristo, “o maligno é vencido, a morte é derrotada, a vida é-nos doada, a esperança é-nos restituída” (Papa Francisco, Angelus, 14.09.2014).

5.«Cruz da misericórdia»! Sim, é esta a Cruz de Jesus, comungada por todos os que sofrem, que queremos expor ao mundo, beijar e adorar! Ela recorda-nos que fomos curados pelas Suas chagas (Is 53,5; I Pe 2,24); ela é o sinal vitorioso, de que “o amor está presente no mundo e é mais forte que o ódio e a violência, é mais poderoso do que qualquer mal, em que possam estar envolvidos os seres humanos” (W. Kasper, A misericórdia, p. 104). Se é abissal o mistério do mal, infinita é a realidade do Amor que o atravessou, chegando até à morada dos mortos, assumindo todo o nosso sofrimento para o redimir, levando luz às trevas, vida à morte, amor ao ódio.

Queridos irmãos e irmãs, a Cruz de Jesus exprime simultaneamente estas duas faces: toda a força destrutiva do mal e toda a mansidão omnipotente da misericórdia de Deus. É daqui que nos vem a força extraordinária da Cruz. Por isso, continuaremos a expô-la, diante do mundo, não como um simples ornamento, mas como o sinal mais eloquente da misericórdia de Deus. Ao beijarmos hoje a Cruz, toquemos e deixemo-nos tocar pela misericórdia de Deus. Olhando para Cristo, sintamo-nos protegidos por Ele. Aquele que nós trespassámos com as nossas culpas, não Se cansa de derramar sobre o mundo uma torrente inexaurível de amor misericordioso. Por isso, “vamos confiantes ao trono da graça. E alcançaremos misericórdia” (Hb 4,16)! 

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