Homilia no III Domingo da Quaresma C 2016

Numa terra tão árida e seca, como a Palestina, «dar de beber a quem tem sede» chegava a ser mais importante do que «dar de comer a quem tem fome». A resistência à sede é, nos seres vivos, bem mais curta do que a de um longo tempo de fome. Por isso, esta obra de misericórdia para com os homens é também um dever sagrado para com os animais e os outros seres vivos.

Jesus, que pede água para beber, junto ao poço de Jacob (Jo.4,6-7) e que grita de sede, no alto da Cruz (Jo. 19,28) falara mesmo de uma grande recompensa, «por um simples copo de água fresca dado a beber a um dos mais pequeninos» (Mt.10,42). Cristo identifica-se assim com quem precisa de água, para matar a sua sede, e com quem a oferece: «tive sede e deste-me de beber» (Mt.25,35). 

«Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhavae esse rochedo era Cristo»(I Cor.10,5).

É tão marcante esta sede de água, que ela exprime, melhor do que qualquer outra necessidade básica, o desejo e a sede de Deus, comparável à do veado «que anseia pelas águas vivas» (Sal.42,2-3). Sinal da bênção divina, a água é dada e derramada sobre «todos os que têm sede» (Is.55; Ez.36,25). Mas a grande fonte desta água, que sacia para a vida eterna, é o coração de Cristo! Este Cristo, que teve sede e pediu água para beber, oferece-Se Ele mesmo como «água viva» (Jo.4, 19)que se torna, em quem a bebe, uma «fonte de água a jorrar para a vida eterna» (Jo.4, 14). O próprio Jesus diz-nos: «se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Do coração daquele que crê em Mim jorrarão rios de água viva» (Jo.7,37; cf. Ap.22,1.17). Por isso, São Paulo não hesita em referir-se a Cristo, como «rochedo espiritual» (I Cor. 10,5)do Qual bebem todos os que têm sede, no deserto e na secura das suas vidas.

Irmãos e irmãs: Porque a água é hoje um recurso natural escasso, a que alguns chamam «o ouro azul» (CV 61), e porque é “um direito fundamental” (LS 30), temos a obrigação moral de garantir a todos água potável e limpa. Não devemos, por isso, desperdiçar a água, pois isso é o mesmo que desprezar os pobres, que não a têm, em outros lugares do nosso planeta. Como poupar então a água? Evitando estar demasiado tempo debaixo do chuveiro, fechando a torneira enquanto me ensaboo ou escovo os dentes, fechando bem as torneiras, para que não fiquem a pingar. Parece fácil mudar estes hábitos, mas não: é um desafio educativo (LS 30; 209)porque estamos acostumados à abundância, ao esbanjamento e precisamos de uma «conversão ecológica», isto é, de uma nova relação com o mundo que habitamos. «Se os desertos exteriores se multiplicaram no mundo, é porque os desertos interiores se tornaram tão amplos»! Daí o apelo do Papa Francisco a uma profunda “conversão interior” (LS 217),para cuidar bem da água, nesta casa comum.

Assim vemos que esta obra de misericórdia é tão corporal como espiritual! E, por isso, podemos ampliar o sentido do«dar de beber»,ao dar alívio a quem está numa grande angústia, semelhante à do sedento, depois de uma longa caminhada pelo deserto. Podemos alargar o «dar de beber» a quem precisa de saborear a frescura do evangelho e encontrar resposta à sua sede de Deus. Em tudo isto “somos chamados a ser pessoas-cântaro para dar de beber aos outros” (EG 86).

5.Irmãos e irmãs: a água com que saciamos a sede é um símbolo maravilhoso da misericórdia divina, porque «do coração de Deus brota e flui incessantemente o grande rio da misericórdia. Esta fonte nunca poderá esgotar-se, por maior que seja o número daqueles que dela se abeirem” (MV 25).

Vamos todos a esta fonte e demos a beber aos outros deste grande rio da misericórdia de Deus! Pratiquemos assim a misericórdia, pois «há sempre mais alegria em dar» (At.20,35), nem que seja um copo de água!

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